ALHO
O cheiro do alho invade a cozinha. Sobe rápido. Avisa que tem coisa boa vindo do fogão. É quase um alarme — daqueles que chamam a fome e puxam memórias antigas. Mas quem usa alho todo dia já reparou uma coisa. Nem todo alho é igual. E isso muda tudo, sim.
Você sabe diferenciar o brasileiro do chinês? Parece detalhe. Não é. O Agro em Campo explica.
Começa pela aparência
O alho brasileiro costuma ter a casca branca ou com um arroxo leve. Quase tímido. Mas, quando você abre, a pele dos dentes brilha num roxo mais firme. Os dentes são compactos. Apertados mesmo. A cabeça pesa mais na mão. Dá uma sensação de produto forte, inteiro.
O chinês… bem, é outro papo. Casca sempre clara, bem branca. A pele que envolve os dentes vira um marrom puxado para castanho. E pronto — até o brilho muda.
Depois vem o cheiro
O brasileiro, por exemplo, é mais intenso. Bem mais. Tem um aroma que invade o ambiente. O chinês é mais suave, quase discreto demais. Apesar disso, tem gente que gosta. Tem gente que torce o nariz.
E tem o tal do alho sorriso. Ele é brasileiro. E simpático. Ao descascar, a película some — ou fica tão fina que parece nem estar lá. Os dentes ficam expostos, como se estivessem… sorrindo. Prático. Bonito. Com casca roxa ou amarronzada. E muito querido nas feiras.
Importações
De janeiro a setembro, o Brasil trouxe 12,8 milhões de caixas de alho de 10 quilos. É alho pra caramba. Cerca de 128 mil toneladas. E a China ganhou destaque, respondeu por 45% desse volume.
Foram 5,82 milhões de caixas, contra 3,16 milhões no mesmo período do ano passado, um salto gigante de 84% a mais.
Mesmo assim, a Argentina ainda lidera com cerca de 52% do total. Mas com preços mais altos, sem chance de competir com os chineses.
Só em setembro, chegaram 1,07 milhão de caixas. Destas, 1,05 milhão eram da China. Preço médio? US$ 12,09 por caixa. Baixíssimo.
Rafael Corsino, presidente da ANAPA, não esconde a preocupação. Diz que o alho chinês chega barato demais. Ou seja, “incompatível com o custo real da produção nacional”.
Resultado? Produtor brasileiro travado. Difícil negociar safra. Difícil respirar.
Projeção assusta
Para 2025, a ANAPA espera 15,5 milhões de caixas importadas. Mesmo com boa safra nacional, o mercado segue pressionado. Sufocado.
O setor pede firmeza do governo. Ações de defesa comercial. E um apelo simples ao consumidor: olhar a etiqueta. Escolher o que é do país. Valorizar quem planta aqui. Porque, no fim, alho é só alho — até você descobrir que ele conta histórias também.