ETANOL
Com avanço das usinas de milho e previsão de 49 bilhões de litros até 2035, indústria busca estratégias para evitar excesso de oferta
O Brasil vive um ciclo de expansão da produção de etanol, impulsionado, principalmente, pela crescente produção de milho. Conforme noticiado pelo Agro Estadão, estima-se que, até 2035 a produção do combustível feita a partir do grão aproxime-se da produção atual de etanol de cana.
Como potencial receptor dessa produção, está o mercado doméstico, no qual, atualmente, o consumo patina. Dados apresentados nesta segunda-feira, 3, pelo CEO da SCA Brasil, Martinho Seiiti Ono, mostram que, embora 80% da frota de veículos nacional seja flex, apenas cerca de 22% do ciclo Otto é abastecido com etanol hidratado.
Segundo Ono, apesar de o mercado interno ser a principal oportunidade para o etanol, estados fora do eixo Centro-Sul, no entanto, ainda apresentam baixo consumo, criando um desequilíbrio entre oferta e demanda. “O mercado interno é a principal oportunidade para o etanol […]. Temos estados com boa densidade de automóveis e participação de apenas 1% ou 2% de etanol. Isso mostra que há um mercado reprimido”, explica.
Conforme o levantamento da SCA Brasil, enquanto São Paulo, Minas Gerais e Goiás lideram o consumo, outros 21 estados – que reúnem 41% da frota nacional – respondem por apenas 19% do volume de etanol hidratado vendido. Essa diferença tem relação direta com infraestrutura.
Em algumas regiões, postos de combustível sequer possuem tanques ou bombas para o produto. O presidente-executivo da União Nacional do Etanol de Milho (Unem), Guilherme Nolasco, relata a dimensão do problema. “Viajei recentemente de Imperatriz a Balsas, no Maranhão, e em 400 quilômetros não encontrei um único posto com bico de etanol hidratado. Tive que abastecer com gasolina”, contou.
De acordo com ele, essa ausência física do etanol nas bombas impede a consolidação de novos mercados consumidores nacionalmente. “Precisamos incorporar a cultura do etanol em novas regiões, integrando toda a cadeia – produção, distribuição e varejo – para chegar onde o produto simplesmente não existe”, defende Nolasco.
Tributação
Um dos entraves da expansão do consumo é a desigualdade tributária. Hoje, a tributação sobre o etanol hidratado varia de 11% a 22% entre os estados, o que reduz a competitividade frente à gasolina.
Há expectativa de que, com o avanço da regulamentação da reforma tributária, em discussão no Congresso, e possível implementação em 2027, ocorra um divisor de águas no setor. Na visão do especialista, com a padronização das alíquotas e redução das distorções regionais, há uma ampliação da competitividade do biocombustível.
“Na medida em que tivermos uma tributação nacional unificada, o etanol se tornará mais competitivo e atrativo ao consumidor”, acredita o executivo da SCA Brasil.
Além disso, outra proposta debatida pelo setor é a criação de políticas de preço regionais. Em vez de reduzir drasticamente o valor em São Paulo – onde o mercado já é consolidado –, a ideia seria oferecer preços mais competitivos em estados com menor consumo e maior potencial de crescimento.
“Se a Bahia, o Rio de Janeiro ou o Rio Grande do Sul tivessem uma paridade de 65%, poderíamos dobrar o consumo de etanol nesses mercados”, explica Ono.
Etanol de milho
Para Nolasco, o etanol de milho tem papel decisivo nessa reconfiguração, uma vez que, a produção, que antes se restringia à BR-163, em Mato Grosso, agora se espalha pelo País. Essa expansão, segundo ele, leva tecnologia, emprego e desenvolvimento regional.
O presidente da Unem lembra ainda que o Brasil já exporta 20% da produção de DDG – coproduto do milho usado na alimentação animal –, e que o etanol brasileiro tem pegada de carbono menor que o americano, tornando-o mais competitivo no mercado internacional de SAF (combustível sustentável de aviação). Porém, ele alerta: “Se não ampliarmos o consumo, corremos o risco de sermos grandes demais para o presente e pequenos demais para o futuro”.
Até 2035, o setor projeta que a oferta nacional de etanol atinja entre 48 a 49 bilhões de litros – salto de mais de 10 bilhões sobre o volume atual.
8 bilhões de litros
Ainda durante a live, Ono apresentou um plano que propõe direcionar até 8 bilhões de litros de etanol a estados onde o combustível ainda é pouco competitivo, sem reduzir a rentabilidade das principais regiões produtoras. A estratégia, segundo ele, poderia preservar até R$ 15 bilhões em receita anual ao evitar uma queda generalizada de preços no mercado nacional.
Ele explicou que o plano busca abrir espaço para o novo ciclo de crescimento impulsionado pelas usinas de etanol de milho. “Se trabalharmos 8 bilhões de litros com uma política de preço direcionada para ganhar mercado, preservamos 30 bilhões de litros com melhor remuneração – o que deixaria R$ 15 bilhões de receita incremental para o setor”, afirmou.
A conta, segundo Ono, parte da premissa de que, sem uma estratégia regionalizada, o setor precisaria reduzir o preço médio em cerca de R$ 0,50 por litro sobre todo o volume nacional de 30 bilhões de litros para escoar a produção crescente.
Ao concentrar a política de preços apenas nos estados menos competitivos, o setor ampliaria o consumo em novos mercados e, ao mesmo tempo, evitaria erosão de margens nas regiões consolidadas.
Fonte: Agência Estado
