CANA DE AÇUCAR
Uma professora e um aluno da rede pública de educação de Goiás desenvolveram um tecido a partir do bagaço da cana-de-açúcar, com potencial para uma futura produção têxtil. O projeto, que une experimentação científica e sustentabilidade, foi selecionado para representar o estado em uma feira de bioinovação que acontecerá em novembro, na Bahia.
Professora de biologia no Centro de Ensino em Período Integral (Cepi) Osvaldo da Costa Meireles, em Luziânia, Gabrielle Rosa Silva explicou ao G1 que a ideia surgiu durante pesquisas, na escola, sobre o desenvolvimento de algum produto por meio de material que fosse descartado de maneira comum.
Foram a inquietude e a curiosidade de Thiago Alves dos Santos, seu aluno do terceiro ano do ensino médio, que levaram ao resultado final. Como eles já haviam desenvolvido um papel à base de folhas de pequi, o estudante perguntou se seria possível produzir também tecido a partir do material.
“Eu falei assim: ‘Será? Vamos tentar. Mas vamos ver qual é o material que a gente mais descarta de forma comum e que tem maior quantidade de celulose’. Aí, falei: ‘Vamos tentar o bagaço da cana-de-açúcar’. Porque a gente vai à feirinha e vê as pessoas consumindo, mas o bagaço sendo descartado”, contou a professora.
Sensação de orgulho
Em entrevista ao G1, Thiago dos Santos disse que, ao ver o projeto indo tão longe, a sensação é de orgulho. Ele conta que levou a ideia para a professora quando começou a perceber o quanto a indústria textil polui e o quanto o consumo de roupas tem crescido de forma tão exacerbada.
“Então, comecei a fazer pesquisas alternativas para transformar resíduos vegetais em algo útil. E foi assim que eu desenvolvi esse tecido ecológico, que tem uma textura parecida com o algodão e tem uma leveza semelhante a da seda”, disse o estudante de 18 anos.
O jovem diz que considera a seleção do projeto para a exposição na Bahia uma conquista enorme. “No começo, eu não acreditava que poderia ir tão longe, principalmente por ser um projeto desenvolvido em uma escola pública e com poucos recursos”, afirmou.
Ele destaca que ver tudo isso dando certo mostra que a ciência pode mudar a realidade. “E, também, que pequenas ideias, quando feitas com dedicação, podem gerar grandes impactos para a sustentabilidade e o futuro do planeta”, completou.
Como é a produção
Segundo a professora, o processo de produção envolve, após higienização, a preparação da biomassa. “A gente extrai a celulose e depois faz como se fosse uma dissolução porque aquele bagaço é rígido e tem que ficar no caso um pouquinho mais, digamos, emoliente”, explica.
Só no processo de extração da celulose são necessárias cerca de três horas. O procedimento utiliza água e soda cáustica sob temperatura constante de 80°C para quebrar os compostos orgânicos e liberar a celulose. Em seguida, é feita a clarificação do material com água oxigenada.
O passo seguinte é o que ela chama de “formação”, quando o bagaço deixa o aspecto rígido e passa a ser viscoso. “Fica como se fosse um mini algodão. Então, a gente faz o processo de fiação, que é a formação de um fio. Depois, a gente faz os ajustes finais. Demora um pouquinho, mais ou menos uns dez dias para fazer tudo”, detalhou Gabrielle Silva.
